Maratona do Porto 2018
A 14ª EDP Maratona do Porto obteve hoje de manhã, e até ao início da tarde, aquilo a que se tinha proposto, a obtenção de novos recordes do evento.
A queniana Monica Jepkoech bateu largamente o recorde feminino do percurso, finalizando a prova em 2h26m58s. Na corrida masculina o recorde do traçado não caiu, mas Daniel Pinheiro, no seu novo clube, o Águias de Alvelos (Barcelos), viria a causar uma muito agradável surpresa, finalizando em segundo lugar com um novo recorde pessoal.
O dia amanheceu soalheiro na Cidade Invicta, com temperatura agradável para a corrida, e assim se manteve todo o evento. Apenas de algum vento se queixaram os atletas de alto rendimento, mas esse é um fenómeno inescapável na orla marítima de Portugal, fazendo relembrar que por muito cuidada que seja uma organização, como é o caso paradigmático da EDP Maratona do Porto, há aspetos que esta não pode controlar.
Com algum vento ou sem ele, o sol e o verde envolvente da zona da Rotunda da Anémona, o azul do Atlântico e os tons variados das camisolas dos participantes, proporcionaram uma festa de cor fabulosa, num percurso ímpar, iniciado junto ao Sea Life Porto, subindo até contornar o Parque da Cidade, na ida até Matosinhos, e, no retorno, havendo a tradicional travessia pela ponte D. Luís I até Vila Nova de Gaia, onde na Afurada se fez o retorno à Invicta, para junto ao mar se procurar de novo a meta.
Carla Salomé segunda, atrás de Jepkoech
Ora vamos primeiro à corrida feminina, aquela que proporcionou um novo recorde do percurso. Carla Salomé Rocha, de facto a correr já de novo com a camisola do Sporting C. P., era a detentora do melhor tempo das concorrentes à partida (2h27m08s na Maratona de Praga deste ano), iniciou muito forte a prova na companhia de vários atletas masculinos e em breve tinha clara vantagem sobre as africanas, e em especial sobre Monica Jepkoech, a queniana que à-priori seria a sua maior rival.
À medida que a corrida avançava, Carla começou a sentir um natural desgaste e passou a ter cada vez menos companhia masculina, enquanto Jepkoech, mais experiente na distância – fazia a sua décima maratona – se ia aproximando, para apanhar a portuguesa e, pouco depois, dizer-lhe adeus, de forma definitiva. A queniana ainda andou largos minutos na companhia de Pedro Palma, mas depois ficou sozinha mantendo um ritmo muito forte, entrando na curta subida para o Queimódromo do Parque da Cidade plena de motivação. Tinha na meta um excelente recorde pessoal de 2h26m58s à esperar dela. O recorde do percurso de Loyce Chebet, outra queniana vencedora o ano passado, com 2h29m13, era batido por mais de dois minutos, e Jepkoech assegurava desta maneira o seu quinto triunfo em maratonas.
Carla Salomé Rocha ficou sozinha durante muitos quilómetros, desde que foi descolada por Jepkoech, mas mesmo com bastante sofrimento na parte final da prova mostrou grande fibra e acabou em segunda, tal como Catarina Ribeiro havia feito o ano passado, com o tempo respeitável de 2h31m01s. Mais oportunidades virão para ela, decerto, agora há que recuperar do tremendo esforço físico e psíquico da prova de hoje. O pódio foi fechado pela etíope Chaltu Bedo, com 2h43m41s.
No final ficou a foto de família que guarda para a posteridade o momento do triunfo de Monica Jepkoech, com a elegante queniana ao centro, toda de azul, ladeada por Aurora Cunha, Jorge Teixeira, João Paulo Rebelo, Secretário de Estado da Juventude e do Desporto e pelas mascotes da prova.
Daniel Pinheiro, sensacional
A vertente masculina desta 14ª EDP Maratona do Porto foi corrida em sentido único a favor do queniano Jackson Limo, o homem que à partida tinha o segundo melhor tempo, com 2h9m06s, resultado obtido na Maratona de Paris de 2014. Rapidamente Limo ficou num quarteto dianteiro, deste só duas lebres aguentaram o andamento, e quando estas saíram de cena o queniano ficou sozinho, muito isolado na frente. Acabaria ainda assim em bom plano, mas distante do recorde do percurso (2h09m51s em 2011, pelo também queniano Philemon Baaru), com 2h11m34s, o terceiro tempo da sua carreira. Este ano havia corrido em Rabat, a 5 de março, onde fora 13º apenas com 2h17m19s. O Quénia manteve assim o seu controle quase total da Maratona do Porto, chegando ao décimo terceiro triunfo masculino nas 14 edições hoje completadas.
Com uma recuperação fortíssima na parte final da corrida, Daniel Pinheiro viria a chegar ao segundo lugar, igualando o melhor de um português no evento, e de forma sensacional pulverizou o seu recorde pessoal por cinco minutos, com 2h17m57s. O anterior melhor de Daniel Pinheiro tinha sido obtido na estreia na maratona, em Viena há cinco anos, com 2h23m00s. Ainda o ano passado ele estivera em destaque na prova, ajudando até ao fim Catarina Ribeiro a obter 2h30m10s na sua estreia na distância. A sua progressão é tanto mais de louvar quanto é certo que já não é uma “criança”, aos 34 anos de idade, e que se trata de alguém que para além de fazer atletismo a sério trabalha a tempo inteiro numa atividade diversa e muito desgastante.
Daniel disse mesmo no final que
contava, inclusive, fazer o tempo melhor que o obtido, e não deixou de
agradecer a Nelson Costa o empenho com que o trouxe a representar o
Águias de Alvelos, o seu novo clube, por troca com o Maia A. C.
Também de parabéns fica, obviamente, o técnico de Daniel Pinheiro, o antigo grande fundista José Regalo.
O etíope Okubat Tsegay fechou o pódio, com 2h19m06s.
A competição teve transmissão em directo na TVI 24, com a parte técnica dos comentários a cargo do Professor João Campos e do antigo (e ainda atual, nos veteranos) maratonista António Sousa.
Tudo junto, uma vez mais a EDP Maratona do Porto, agora na edição 14ª edição, foi um evento memorável, um espetáculo de ver e chorar por mais.